domingo, 8 de outubro de 2017

Dez conselhos para quem planeia imigrar para Portugal:


Como todos sabem mudamos para Braga - Portugal em Março. Não tivemos tempo de atualizar o Viajando de Cocó devido a correria com toda a mudança, abrimos um café.... Mas, aos poucos vamos voltando!



Aqui em nosso café recebemos quase toda a semana visita ou mensagens de brasileiros que intencionam migrar para Portugal e vem pedir “dicas” a respeito, nos temas os mais diversos. Resolvemos, então, compilar os dez conselhos que entendemos mais importantes, diante do que observamos cá no dia a dia.

1 – Venha legalizado sempre: Eu sei! Você leu em mais de um grupo da internet que se vier como turista consegues emprego e com emprego, depois legaliza-se. Além disso, a tia do primo da mãe da sua vizinha veio ilegal e hoje vive maravilhosamente bem por essas terras. Quem avisa amigo é: Entrar ilegal em um país estrangeiro não é uma boa idéia. Primeiro porque, embora muitos passem pela alfândega sem problemas, o risco de sua aventura acabar antes de começar é muito grande. Não bastasse isso, como ilegal, você terá imensas dificuldades para abrir conta em banco, arrendar imóvel, etc. Empresas sérias costumam pedir comprovativo de que você está legal no país para empregá-lo. Há quem dispense a exigência, mas nesse meio você vai encontrar de tudo, até quem, após um mês de trabalho, se recuse a te pagar o salário e ainda ameace te denunciar ao SEF.

2 – O Brasil não é a última coca-cola do deserto: Tá certo, os Portugueses admiram nosso otimismo, gostam de alguns pratos de nossa culinária e apreciam alguns nomes de nossa música. Mas isso não significa que você chegará em Portugal e ficará rico vendendo a receita de brigadeiros da sua avó. Aliás, por essas bandas, eles nem gostam muito de brigadeiro, que acham muito doce. Pense em um produto, serviço ou prato da culinária brasileira. Pensou? Já existe alguém fazendo isso por aqui. Sorry, mas é a realidade. Outro erro muito comum é acreditar que bastará chegar aqui mostrando sua “brasilidade nagô” que todas as portas se abrirão. Se elas não se fecharão apenas porque você é brasileiro (ver o próximo tópico), também não se abrirão apenas por esse motivo. O brasileiro forma a segunda maior colônia de imigrantes do país, então, acredite, o seu jeito de ser não é novidade.

3 – Não. Não é preconceito: Uma coisa que ouvimos toda hora é brasileiro reclamando de preconceito. Aí você vai perguntar o porquê e descobre que o sujeito se achou discriminado porque foi alugar um imóvel e o senhorio exigiu fiador ou seis meses de renda como caução. Não amiguinho, não se trata de preconceito. Você é brasileiro, mas poderia ser japonês, italiano ou o príncipe das asturias (não, esse talvez não), mas isso não afasta o fato de que você é um recém chegado no país, provavelmente desempregado e sem ninguém que possa dar referências a seu respeito em Portugal. Você arrendaria seu imóvel para alguém nessas condições? Porque aqui seria diferente? Isso não quer dizer que não exista preconceito em parte alguma. O idiota é uma raça universal e ele está presente também em Portugal, mas em níveis infinitamente menores do que você imagina. O que muita gente encara como preconceito, na verdade é apenas a vida real.

4 – Preconceito consigo próprio: Outra coisa muito comum de se ver é brasileiro aceitando de bom grado todo tipo de abuso e desaforo, achando que reclamar disso é coisa de brasileiro. Exemplo disso são repartições públicas que adoram fazer exigências criativas, que não estão previstas em lei alguma, ou vendedores de serviços (tv a cabo, energia elétrica etc) que abusam do fato de você ser estrangeiro para lhe empurrar penduricalhos desnecessários. Se perceber que está sendo tapeado, reclame sem medo de ser “brasileirisse”. Não tenha consigo o preconceito que os portugueses não tem.

5 – Portugal não é Xangri-la: Se você chegar em um lugar cercado de pessoas felizes, todas de branco, cantando a versão em fado de Cumbaiah, sinto lhe informar, mas provavelmente o avião caiu e você está do outro lado da vida e não do outro lado do atlântico. Sim, Portugal tem lá seus problemas, como qualquer outro país do mundo, mas à diferença do Brasil, trabalha com seriedade para superá-los. Embora óbvio, é importante salientar isso, porque já vi brasileiro que, à primeira dificuldade, atraso de um autocarro ou serviço mal prestado, já sai dizendo que aqui é igual ao Brasil.

6 - Você não vai morar no museu: A não ser que você seja padre, não escolha Braga porque visitou o Bom Jesus e achou lindo. Você não vai morar lá. Sugiro que, antes de escolher um sítio para sua morada em Portugal, visite, observe o clima, as pessoas, o comércio, as escolas, hospitais e veja se tem algo a ver com você. Basear seu novo lar apenas por conta de museus e belas paisagens, quando você está em um país diferente, sem família ou amigos por perto pode levar você facilmente à depressão.

7 – Você não é turista: Temos observado muitos brasileiros que chegam e, ao invés de se acentar na nova cidade, dão para visitar tudo quanto o que é lugar, como se não houvesse amanhã. A empolgação pela novidade é um sentimento natural, mas o Castelo de Guimarães está lá há 500 anos e é bem pouco provável que vá sumir nos próximos meses. Melhor utilizar seus recursos para providenciar toda a documentação que precisa, matricular os miúdos na escola, arrendar sua casa e, se for o caso, arrumar um emprego, para depois passear tranquilo, sabendo que está fazendo despesas, mas terá receitas a receber.

8 – Não conte com o ovo na cloaca da galinha: O Termo é um pouco mais chulo... achei cloaca menos feio. Se você tem capital guardado no Brasil e pretende sobreviver disso aqui, talvez seja melhor trazer, se não tudo, o máximo possível de uma vez só, ao invés de ficar trazendo um pouquinho todo mês. Não é novidade para ninguém que o Brasil está vivendo um período de profunda e grave instabilidade política e social, o que acaba refletindo no câmbio. Resultado: Você tem lá todo mês aqueles 8.000 reais que correspondem à 2.000 euros, o que dá para você viver muito bem por aqui. De repente, descobrem que o Temer na verdade é a Dilma vestida de terno e... pá.... o Euro vai a 5.00 reais e você acabou de perder 400 euros do seu orçamento mensal (se calhar, o valor da renda de sua morada). Impossível? Uns meses atrás um tal de Joesley gravou uma conversa esquisita com o Presidente da República e o caso foi parar na imprensa. O câmbio oscilou tanto que o Transferwise suspendeu suas operações no Brasil por uns cinco dias. Aqui foi um “barata voa” de brasileiro desesperado para arrumar dinheiro para pagar as contas.

9 – Não. Você não está abafando: Marca de roupa, de sapato ou de carro não significam muita coisa desse lado do oceano. Ao menos as pessoas que você vai cruzar no dia-a-dia estão pouco ligando se você tem uma Mercedes ou um Opel Corsa, até mesmo porque, com pouco menos de 300 euros por mês, você consegue financiar uma Mercedes. As pessoas costumam comprar este ou aquele carro porque gostam da marca ou porque lhes é útil de alguma forma e não para ser tratado como gente pelo gerente do banco, até mesmo porque, salvo raras exceções, o gerente do banco trata a todos como gente, quer você chegue à sucursal a pé ou de limousine. Roupas seguem a mesma receita: As pessoas, em sua maioria, compram suas roupas com foco em conforto, qualidade e preço, logo, ninguém vai te achar “diferenciado” porque desfila aquela etiqueta da Zhara na jaqueta. Aliás, especificamente em relação às lojas desta marca, embora seja “chique” no Brasil, por aqui é algo comparável à Riachuelo.


10 – Existe desonestidade no mundo inteiro: Lembre-se, você está vindo a Portugal e não ao Jardim do Éden, logo, não pense que todas as pessoas são incorruptíveis e totalmente honestas. Há gente desonesta, como em qualquer lugar do planeta. A diferença é que, como por aqui o Poder Judiciário não é uma piada de mal gosto como no Brasil, se você for vítima de uma burla, conseguir identificar o burlão e provar os fatos, certamente haverá consequências para o picareta. Ainda assim, é importante ficar atento para não cair nas armadilhas mais comuns que os brasileiros que por aqui chegam caem: Arrendar apartamento, só com contrato e após visitar o imóvel. Comprar carro usado, convém analisar bem o modelo e, se tiver dúvidas, consultar um mecânico.